Espigão de Barro
Padroeiro: S. Bom Jesus
Fundação da Capela: 6-8-1938
O termo “espigão” é frequentemente usado em Araranguá, para significar pequenas ou grandes elevações nas planícies, servindo por vezes de divisor das águas.
Espigão de Barro é nome do morro mais alto a cavaleiro da localidade que passou recentemente também ao lugar (1938) quando o Pe. João Reitz denominou oficialmente a capela por este nome.
Ainda hoje é chamada, por muitos, Cachoeira, aliás indevidamente, pois este nome pertence a um local mais baixo onde o rio Cachoeira tem a sua última queda, antes de desaguar no rio Canoa.
Bastante antiga deve ser esta localidade. Por 1894 já havia diversos moradores na zona. O atual cemitério, sito um pouco ao norte da capela, teve um tétrico inicio, pelo tempo da revolução de 1893, que repercutiu profundamente em toda zona. Maragatas (oposição) e Picapáus (governistas), facções revolucionárias da época, tinham também aí seus adeptos.
O primeiro a ser enterrado no cemitério foi Camilo Manoel da Silva, morto neste período revolucionário. Seu cadáver, que jazia insepulto por 3 dias, foi encontrado, já em parte devorado pelas aves de rapina.
Ainda mais turbulentos ficariam os tempos para as populações da zona.
Manoel Rodrigues, que vira seu pai ser tirado da cama e degolado pelos Picapáus, deu início a uma cruenta revolta local que se espraiou por Praia Grande, Glória (Pirataba) e Passo do Sertão. Neste período foi morto Amândio Borba, nos Pinheiros, localidade adjacente ao Passo do Sertão. Tiroteios, morticínios, depredações, assaltos ao bem alheio eram frequentes durante 2 anos, depois dos quais fizeram-se as pazes em Rio Verde.
Manoel Rodrigues, com sua filha, foram mortos posteriormente, numa emboscada, em Lajes. Afirma o povo que suas orelhas foram postas a preço, por vinte contos.
O cemitério, tão tristemente iniciado, foi sempre cuidado pelos moradores da localidade, sendo-o hoje pela comissão da Capela.
A localidade possui atualmente (1945) 12 casas. Sua mola de progresso é a Capela, que atrai o povo todos os domingos e dias de missa.
Possui uma escola municipal.
Muitos opinavam que a capela deveria ser construída em Cachoeira, quase perto do rio Canoa. O material em boa parte já estava ajuntado e até feita parte da armação. Mas, levando-se em consideração a dificuldade de o cemitério estar afastado da igreja resolveu se transportar tudo para Espigão de Barro.
As primeiras três visitas a Espigão de Barro foram feitas, em 1917, pelo Pe. Raulino Deschamps, celebrando pela primeira vez em casa de José Helena, e nas outras vezes na nova capela.
A igreja, com o auxílio popular, foi erguida em poucas semanas, sendo solenemente benta, junto com a imagem nova do Padroeiro, em 6 de agosto de 1938, pelo Pe. João Reitz. Possui as seguintes dimensões: Corpo: 8.60 x 6,30 ms., ábside 4 x 5 ms., sacristia: 4 x 2,70 ms..
Muito agitada foi a primeira visita do Pe. João Reitz a Espigão de Barro. Havia 2 partidos que queriam dirigir os destinos da capela. Um era presidido pelo inspetor de quarteirão Alfredo Pinto, ajudado por José Antônio de Farias, mais conhecido por José Helena. O outro era composto por Amado Zeferíno, João Camilo de Medeiros, Balbino Rodrigues, José Camilo, João Ramos, Itelvino Mendes e alguns dos polacos, todos bem intencionados.
Em vista da má gestão do primeiro partido foi convocada, pelo Vigário, uma reunião para escolher uma nova comissão. Esteve presente também Cesar Bellettini, que aconselhava colocar na missão luso brasileiros e polacos.
Alfredo Pinto estrelou. Deu voz de prisão ao Vigário e a todos os reunidos, embargando a reunião.
Em obediência às ordens do inspetor desfez-se a reunião. Enquanto, poucos dias após, o Vigário estava arrumando no seu escritório a papelada para um recurso judicial superior apareceu Alfredo Pinto pedindo desculpas e revogando as ordens dadas.
Como era de esperar houve, durante este tempo, forte falatório. Uns falavam em tirar as telhas da igreja, outros as tábuas, etc., etc…
Mais tarde foi escolhido, com calma a comissão definitiva, sendo eliminado todo o elemento indesejável.
O padroeiro da capela é S. Bom Jesus. Durante muitos anos festejava-se S. Bom Jesus de Iguape na casa de Camilo de Medeiros, um dos principais fundadores da capela. Possuía este uma pequena imagem de S. Bom Jesus, herdada de seus avós, deante da qual tradicionalmente se fazia uma novena cada ano. Em outro capítulo falar-se-á especialmente desta estatuazinha.
Auxiliando, a construção da capela, dedicada a S. Bom Jesus, sentiu se desobrigado da festa em sua casa, colocando a imagem na igreja, onde seria diariamente venerada.
Logo que foi adquirida uma imagem maior, a Comissão da capela permitiu que esta imagem secular fosse transportada para o museu paroquial de Sombrio.
Apontamentos extraídos do livro caixa da Capela:
“21.5.1938 Abertura do livro caixa.
21.11.1938 Portas, janelas, vidro, massa, etc. Cr$312,00.
18.12.1938 Compra de terra da igreja, escritura registro Cr$612,00.
6.3.1940 Pagamento da imagem de S. Catarina Cr$260,50.
9.5.1940 Benção da imagem de S. Catarina.
6.3.1940 Construção da sacristia.
14.10.1940 Benzimento do sino. 1* Padrinho: José Michels, 1a. Madrinha: Helena Semler Michels, 2ª. Padrinho: Pe. João Reitz, 2a. Madrinha: Marta Semler. O sino, que está atualmente suspenso em uma torre aberta, custou Cr$656,50.
11.10.1941 Benção da imagem de S. Coração de Jesus. Padrinhos. Prazíldo Pinto, Madrinha: Maria Evaldt.
A população de Espigão de Barro é quase toda luso-brasileira, com exceção de algumas famílias polacas, dos Serriler, proveniente, pelo ano de 1920, de S. Bento Baixo, no Município de Cresciuma.
A Comissão está disposta a iniciar, em breve, a construção da capela definitiva. já estão tirando pedras para o alicerce. 0 projeto já foi mandado desenhar.
Raulino Reitz
Paróquia de Sombrio
(Ensaio de uma monografia paroquial)
Progresso religioso e social
1948